Um pouco da história

Importância da região portuária e dos Estivadores

A região portuária do Rio de Janeiro concentrava uma grande população baiana e contava com presença significativa de estivadores. Figuras como Tia Ciata, João da Baiana, Tia Sadata da Pedra do Sal participavam de diversas agremiações fundadas no porto da cidade. Hilário Jovino também vivia neste local que é conhecido como a base de fundação dos Ranchos Carnavalescos. 

Estandartes

Os estandartes representam um importante símbolo das agremiações. Não apenas os Ranchos tinham esses objetos, mas também as Grandes Sociedades, Clubes e alguns blocos de carnaval. Vários relatos apontam que nos primórdios dos desfiles ocorriam diversas brigas em torno desse tema. Em muitas ocasiões, integrantes de outros grupos roubavam o guião da agremiação rival, gerando grande humilhação. A figura do mestre-sala, incorporada posteriormente pelas Escolas de Samba, muitas vezes desfilava munido de uma navalha, como contam as lendas da época, de maneira a poder defender a bandeira máxima do grupo.

Política

O Carnaval carioca sempre teve uma estreita ligação com a política. A temática dos Ranchos Carnavalescos misturava questões filosóficas e temas contemporâneos. Era comum no carnaval carioca que blocos e as Grandes Sociedades satirizassem os políticos e acontecimentos da vida pública durante o período de folia, através de suas canções. Durante anos houveram várias tentativas de “cancelamento” desses festejos sem sucesso. Nesta época era comum haver duas festas por ano, com mais frequência do que se imagina na atualidade. 

Sonoridade

A música adotada nos desfiles dos Ranchos era a Marcha-Rancho originada em corporações militares. Essas melodias tinham um ritmo muito diferente das marchinhas, o samba carioca moderno criado e até mesmo o samba-enredo como conhecemos hoje. Havia, no entanto, alguma proximidade com a pulsação maxixada dos baianos do bairro da Saúde, mas era particularmente única em sua essência derivada também das Congadas.

Indumentária

Desde as suas origens, os Ranchos adotaram enredos para seus desfiles. Por essa razão, há uma forte presença de fantasias produzidas exclusivamente para esses cortejos. É importante frisar a ligação que se estabelece com profissionais (técnicos) de diversas áreas. Muitos deles, mesmo não fazendo parte efetivamente da comunidade, eram contratados para desenhar as roupas do carnaval, as fantasias, além das costureiras e cenógrafos para produzir todo o material necessário ao corso. Nesse sentido, a Escola de Belas Artes da UFRJ, fundada em 1816, exerceu um papel primordial no fornecimento de mão de obra para essas agremiações.

Relações Sociais

Semelhante ao que ocorre atualmente com as Escolas de Samba, os Ranchos não tinham uma função social e de espetáculo apenas nos dias de folia. Durante todo o ano, diversas festas e reuniões ocorriam em suas sedes, e, muitas vezes, também realizavam-se desfiles para a própria comunidade. Dessa maneira, funcionavam como um local aglutinador das classes mais pobres da população, construindo laços de integração e solidariedade. Importante notar que os Ranchos Carnavalescos também abrigavam pessoas da classe média e intelectuais. De certa maneira, se situavam no espectro social entre as Grandes Sociedades que eram os desfiles da elite carioca e os blocos de sujo, cordões e entrudos, mal vistos na época e frequentados por pessoas de classes mais populares.

Papel da Imprensa/JB

A partir de 1908, o Jornal do Brasil começa a promover amplamente os Ranchos em suas publicações. O veículo passa a distribuir, inclusive, premiações no carnaval e marca-se a origem da apuração das Escolas de Samba como conhecemos nos dias atuais. Muitos cronistas do JB e de outros veículos de comunicação também frequentavam esses espaços e foram fundamentais para divulgar os desfiles que se tornaram cada vez mais populares. Com a adesão da imprensa, o próprio poder público passa a incentivar financeiramente essas agremiações.

Carnaval nos Clubes

Ligados às elites, os clubes promoviam bailes e festas de carnaval. Muitos deles realizavam atividades totalmente distintas da celebração do Rei Momo durante a maior parte do ano. No entanto, de maneira a receber incentivos do poder público e do capital privado tentavam se inserir nesse contexto. Os clubes Democráticos e Feninianos são os mais conhecidos deste gênero. 

Blocos, Cordões e Sujos

Há uma dificuldade dos historiadores em definir exatamente o que era cada tipo de organização festiva da época. Segundo os estudiosos, os blocos, cordões e sujos eram extremamente mal vistos em sua maioria. Aqui definimos como blocos as agremiações nas quais todos os integrantes desfilavam com a mesma fantasia, sem a presença de diferentes alas temáticas. O exemplo da atualidade mais próximo seriam os “bate-bolas” ou o “bloco das piranhas”. Os cordões eram grupos brincantes onde não havia fantasia definida para seus integrantes, constituindo dessa forma, uma grande diversidade de tipos em sua composição. Já nos sujos eram comuns as guerras com farinha, água de cheiro e outros elementos que compunham uma grande bagunça carnavalesca e festiva em seus cortejos.

Grandes Sociedades

As Grandes Sociedades eram desfiles essencialmente das elites. Ocorriam na Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco e contavam majoritariamente com pessoas brancas em sua composição. Já havia a presença de alegorias e temáticas, muitas vezes com carros motorizados, diferentemente dos Ranchos que eram compostos sim de alegorias mas que contavam em sua maioria com carros de tração animal.

Financiamento

Os ranchos eram financiados principalmente pela própria comunidade a partir de contribuições de seus integrantes. Também levantavam recursos através de festividades promovidas fora do período carnavalesco, como feijoadas, rodas de samba e bailes. É de conhecimento público que havia o “livro de ouro”, no qual os comerciantes da região do centro da cidade faziam doações para financiar os desfiles e fazer com que as agremiações incluíssem em seus trajetos os pontos comerciais que apoiavam esses grupos. Posteriormente, o Jornal do Brasil se tornou um  incentivador com distribuição de premiações e até mesmo o poder público com financiamento dos desfiles.

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